quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Meu testemunho

Bom, entre meus dias, nada mais me surpreendia; estava fechada em mim mesma de tal forma que o mundo não andava por aqui, minha rotina parecia ter parado em único dia e desde então esse dia se repetia, se repetia...nada de novo eu me deixava acontecer. E a maioria dos âmbitos da minha vida permaneciam como frutas estragadas que em um dia eu já conseguira saborear; família, amigos, namorado...eram sempre os mesmos fatos, as mesmas coisas, o mesmo mundo que eu não deixava entrar. Mas a podridão e o desgosto desses âmbitos, dessas frutas, não estavam propriamente nelas, mas na forma que eu as enxergava, que meus olhos enxergavam o mundo.
Vivendo dessa maneira, houve um dia em que me decidi ir embora (por apenas uns dias), e comecei a procurar na internet algum lugar para onde pudesse viajar, no fundo, nem eu mesma acreditava que acharia, mas só o ato de ir em busca, procurar, já me aliviaria. Abri o computador e logo depois de entrar no Facebook, encontrei a propagando do Acamps compartilhada por uma amiga antiga minha, dos tempos do fundamental. Fui logo conversando com ela no chat e perguntando se poderia ir mesmo sendo ateia pois na minha cabeça só haveria diversão, brincadeiras, etc. Ao que ela logo me respondeu dizendo que não haveria problema algum pois outros ateus também iriam. Só faltavam dois dias pro acampamento, se não um e eu já estava arrumando minha mala... Hoje eu vejo que talvez não fora coincidência ter a quantia de dinheiro exata que precisava pagar guardada nas minhas economias. Eu já estava decidida a ir, finalmente passar uns dias longe...
Engraçado que foi justamente nesse ato de fugir de tudo e de mim mesma que eu me encontrei, entrando em contato com um eu que pra mim não existia mais pois eu já havia esquecido. Fui perceber, muito tempo depois, que Deus já cuidava de mim ali, com toda a sua primazia, pois bem grande foram as preocupações da minha mãe, ao saber que iria para esse acampamento, sem conhecer praticamente ninguém, mas grande era o ímpeto que Deus colocava em meu coração, antes mesmo de entrar no ônibus lembro que ela me perguntou pela enésima vez se eu queria mesmo fazer aquilo, e eu estava determinada... Porém, quando embarcamos no ônibus e me percebi ali, sentada sem ter ninguém com quem conversar, me veio a primeira onda de pensamento fria: será que eu devia está fazendo mesmo aquilo? Será que não era melhor ter ficado em casa? Afinal... o que eu estava fazendo? Então ainda perdida nesses pensamentos, vi se aproximar uma menina, que tinha mais ou menos a minha idade, ela mal me apresentou seu nome e já estávamos conversando, e fomos conversando até chegar no local, descobrindo o tanto que tínhamos de comum. Dani. Vi aí a primeira pessoa que o Senhor me quis colocar, na tentativa de não me fazer desistir, de não me deixar ir embora. E tudo ocorreu muito bem, até o dia seguinte.
Tamanha era minha estranheza diante daquelas atividades! Diante daquela alegria, todo mundo pulando,sorrindo, dançando, que coisa mais esquisita, eu pensava... Tivemos várias atividades de manhã as quais eu não saberia denominar, eu desconhecia essas coisas, essa alegria de agir, de louvar. Eu não entendia...Pra quê? Que Deus não existia... Logo comecei a me sentir como um peixe fora d'água e minha primeira vontade foi querer ir embora. Tudo era muito absurdo e diferente de mim. Peguei logo o telefone e liguei para minha mãe, avisando que se ela pudesse me pegar naquela hora mesmo eu iria, até que conversando com ela, percebi não saber o endereço do local e fui perguntar a primeira pessoa que vi a minha frente: o Kleber, que estava animando o evento. Ele me disse que para ir embora precisaria avisar antes a coordenadora dos meus dormitórios,a Manu. E lá foi eu, com minha mãe esperando na ligação...
Agora percebo como todas as obras do Senhor são grandiosas, como Ele se faz presente em todos os detalhes, em cada pessoa que me colocava perto... Como sussurravas Teu nome pra mim e eu, plenamente surda, não Te ouvia!
Manu logo me perguntou porque tamanho era meu desejo de ir embora, e fomos conversando...Até que nem reparei ter desligado o telefone e ela me propôs um desafio: ficar ali mais um dia, que qualquer coisa que me incomodasse eu poderia falar com ela, que me deixaria mais livre...E se ainda quisesse ir no outro dia, eu iria. Eu aceitei, e até nisso Meu Amado acertou... Pois sabia que minha alma não seria capaz de recusar um único desafio.
Vocês já devem imaginar o que me aconteceu no outro dia...tive minha primeira experiência com Deus depois de muitos anos longe da Igreja Católica. Através de Manu, Deus se apresentou a mim, em minha plena pequenez e fragilidade humana, retomou o laço que tínhamos quando eu ainda era uma criança e ia pra Igreja... Ele me conhecia! E eu também O conhecia, mas já havia esquecido de sua infinita presença e existência tão dócil! Pelo meu grande e tolo ateísmo. Através dela, Deus não só se fez presente mas teve a caridade de me explicar meus principais motivos ateístas, os quais eu mesma desconhecia. Ele me explicou a minha própria história e naquele instante já me fez ser mais livre...Porém meu medo de algo sobrenatural assim era tão grande e o baque na minha inquebrantável base ateísta foi tão grande... que eu logo duvidei, só que não era capaz de explicar o que tinha me ocorrido...E eu continuei lá, durante os últimos dias, participando meio bamba das atividades e sem conseguir acreditar com o que acabara de me acontecer...Mas não foi só isso, houve mais.
"Eu quero sair das minhas prisões", já dizia o Padre Tarso numa das missas em que eu me recusava a ir; acho que não por coincidência, essa foi a única frase que me penetrou os ouvidos distantes, sentados e aborrecidos nas últimas cadeiras das celebrações eucarísticas. Só essa frase podia resumir tudo que minha alma de mais alto clamava ao mundo que me destruía. Eu queria sair das minhas prisões, já não aguentava mais andar com meus próprios pés sobre as calçadas da minha própria dor e ser incapaz de amar, inclusive a mim mesma. Já não aguentava mais. Queria ser livre, ardentemente livre.
Me senti penetrada não só nesse momento em que o padre dizia essa frase, (parecia que pra mim), mas em tantos outros, Meu Deus! Em que me fizestes sentir que era ali que estava, tudo que eu mais procurava. A efemeridade estava acabada, eu presenciava que aquelas pessoas, assim como eu, buscavam algo a mais,buscavam o eterno, não só se satisfaziam em se findarem na superficialidade das relações, nem acabavam em si mesmas, elas se estendiam e terminavam no outro, no seu ser com o outro, e quando percebi isso, meus olhos já estavam cheios de lágrimas...
Como tão tarde eu te amei! Parafraseando meu amigo Santo Agostinho. Tu que se fazia presente e me sussurravas Teu nome na minha mais infinita imperfeição. Me deixas constrangida por agora saber o quão perto estavas de mim enquanto eu Te negava! Enquanto eu gritava para o mundo e para as profundezas do meu coração a falsa certeza da tua completa inexistência... não percebia que me olhavas, que já me amavas, Senhor.
Lembro de querer ficar quietinha durante o Acamps, para que ninguém descobrisse a minha falta de religião, pois sabia, sabia que iam querer me "evangelizar",( mal sabia eu que todos os passos ali já me evangelizavam...)Mas Deus não precisa de recursos, Ele se faz sozinho. E até mesmo as pessoas que souberam de mim, tiveram a capacidade de me cuidar e de me amar, como eu nunca nunca havia sido antes. Era o Teu Amor Senhor! Que eu já sentia sem saber denominar! O que me impactou bastante pois tinha a certeza de que pessoas religiosas eram intolerantes e que sofreria bastante aversão por me dizer ateia. O que nada aconteceu, só pelo contrário...
Como tantas coisas no mundo me prometeram e nunca cumpriram, Deus foi a única pessoa que me fez livre, destruiu todas as minhas máscaras da forma mais bela e singela possível, e me deu o autoconhecimento para saber quem sou: sua filha.
E meus dias foram se passando, enquanto eu ia frequentando e descobrindo mais o que era a comunidade católica Shalom.
Hoje, fico imaginando...Como foi que eu encontrei esse lugar? Como a minha história de salvação é bela! Não porque eu a construí, mas porque deixei que Deus a construísse em mim. Encontrei, aqui no Shalom, um povo que busca amar a Deus na espiritualidade da vida humana. Como pode Senhor, teres feito um carismas tão belo? Parece que foi feito pra mim! Para abarcar consigo a minha imperfeita humanidade. Aqui, não me sinto unida só pelos valores parecidos, mas por cada um, buscar profundamente a sua essência mais íntima, o seu ser com Deus. Sinto que juntos, temos muito a crescer. Obrigada, Senhor! Por haveres escolhido minha pequenez.
Demorei tanto tempo para descobrir o nome da minha vocação; a vida inteira me percorreu esse desejo sem nome de me doar, de dar a minha vida para salvar da morte os outros, meus irmãos. Minha essência sem Tu a andar no mundo virou despercebida de significado, de valor. Como eu era tonta sem Tu! Como o mundo e eu mesma feri minha própria vocação ao estar longe de Ti! Como demorei pra descobrir esse novo nome, mas que acredito sem ter sido meu: Shalom.




terça-feira, 16 de agosto de 2016

"Um livro é um espelho e só podemos encontrar neles o que já carregamos dentro de nós"

Começar a doar meus livros está sendo uma grande obra de Deus na minha vida. Não os dei para ninguém ainda, mas só de estar separando-os para longe de mim e da minha estante, já me causa uma dor, um certo aperto. Os livros sempre foram os meus melhores amigos, a minha segunda voz, pois vivenciamos juntos nossas histórias. Também foram: ouvidos para minhas lamentações, forças para as minhas desistências e grandes depósitos de lágrimas escondidas. Tanto é o meu apego que ao me despojar deles, sinto como se estivessem arrancando pedaços de mim. Mas agora, sinto que preciso deixar que Deus ocupe esse lugar sobre mim. 
Bem sei que eles foram presentes de Deus para mim, pois quando eu ainda não O tinha por amigo (não por Sua vontade mas por minha escolhida cegueira) me deu todos esses personagens como família e consolo, como um barco cheio de presentes em que eu pudesse abarcar e me guiar pelo mundo. Ele sabe, como sabe! que eu não aguentaria sem eles.
Cada livro constitui uma história, não somente aqui ali contém, mas a de quem escreveu e a de quem leu, cada livro representa um olhar sobre a vida, significa um recomeço, uma amostra de identidade, guardam grandes sonhos,anseios,medos e compõem-se de muita imaginação. Que o senhor me guarde nessas faltas, porque eu bem sei que fazer isso é para o meu próprio bem, por mais que minhas vontades teimem em me dizer o contrário.
Sei que poucos são os que compreendem meu despojamento, mas não é preciso. Somente com a graça de Deus e seu convívio.
Porque eu tenho que me sentir inteira sem nenhum deles presente fisicamente, mas dentro de mim. Mas antes de tudo, eu preciso me sentir completa somente ao Teu lado, aplicando na memória e na vida que só Deus basta como minha amiguinha Santa Teresa me ensinou. Para enfim no depois, entender que também O posso ver e sentir nas coisas materiais e naturais, porém sem muito apego. Que o nosso canal de comunicação primeiro sejam as missas, as orações, as noites de vigília, depois os livros. Mas claro, não todos. 
No fim, entender que o Senhor está em todas as coisas, sabendo que por onde meus pés passam, elas sussurram o Teu nome. 

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Caminho de conversa

Nesse Halleluya Deus me mostrou o caminho que nós percorremos até aqui. Hoje já fazem pouco mais de seis meses que Te reencontrei, meu amado. Hoje eu vejo porque aquelas músicas mexiam tanto comigo no Acamps, Tu fizestes meus ouvidos dispersos ouvirem as mesmas primeiras músicas novamente nesse festival, não de qualquer forma, não em qualquer momento. E tais versos, eram o recomeço de nossa história.
"Sim, é teu meu coração", "Sim é essa minha decisão", "Seja Senhor, meu único Amor, meu tudo"
Através dessa canção você já sussurrava em mim o segredo, o segredo mais profundo para minha alma se curar: debruçar-se sobre Ti. Hoje eu vejo o quanto me chamastes, o quanto me amastes e tanto me constrange não só ter escolhido minha amarga escuridão por quatro longos anos mas também ter te negado friamente quando Tu mais se apresentava a mim, no acampamento desse ano. Ter olhado para o meu falso firmamento de gelo, para as minhas certezas ateístas justamente na hora em que Tu me declarava o Teu nome. Que vergonha, Senhor! Que vergonha... Ter te negado quando aparecesse esse ano, fazendo questão de dizer: eu estou vivo, minha filha.
E desde então, só Tu sabes o quanto eu sentia falta, falta do Teu imenso auxílio, do teus conselhos, do Teu imenso amor, da força que me emprestavas e da sabedoria que as vezes me concedia, ainda quando era criança, mas principalmente falta de dividir a cruz contigo. Minhas dores não, suas dores também, nossa, nossa cruz Amado, porque hoje e sempre sofrerei pelas tuas chagas.
Não cabe a mim entender porque me escolhestes aparecer, mas minha gratidão transborda em sorrisos, lágrimas e serviço. Agradeço-te ternamente por me concederes o olhar que vê em todos os momentos da minha longuíssima e breve história, a Tua mão, o Teu jeito, os Teus dons para me proteger, me curar, me amar, me santificar.
E afasta de mim, Pai, qualquer glória que minha humanidade queira assinar, pois sei bem como tudo é Teu. Essa parte da música explica minha história e acredito que a de teus outros servos também, mas por muito tempo eu a escutei sem entender que realmente a entendia, só podia sentir que tais letras mexiam comigo de uma forma que eu mal podia suportar estar longe de Ti. "Diante de tantos amores, só o teu me invadiu, me atraiu (...)" Diante de tantos olhares, só o teu me fitou roubou meu coração (...)" Para sempre, para sempre.
Deus, como eu não pude ver? E por quanto tempo mais eu ia escolher o abismo entre não estar contigo e não se sentir dentro das coisas do mundo?
Onde eu não te via, nada me agradava. Vivi inteiramente com essa sensação de ter algo errado com as coisas do mundo, mas nunca assimilava isso com a falta da Tua presença.
Hoje, eu quero estar presa a Ti porque a mim eu não confio mais. Eu sei que não posso me confiar, eu me traio a cada instante sem Ti. Me petrifica ao Teu lado. Me deixa ajudar, desejo abraçar teu rosto com as palmas de minhas mãos e te dar todo amor que não possuo sem Ti, quero estancar essa dor que tu tanto me alerta que aperta teu coração. Quero cuidar de Ti, como tu cuidou de mim, mesmo que isso não seja possível. Quero ser tua, somente tua.
É impressionante como tu sabes onde está a minha felicidade, a felicidade que sempre procurei e nunca encontrei completa sem Ti, é incrível como só me achei depois de ter te encontrado. Me comove ainda mais a leveza com que as vezes me dá a mais pura e completa felicidade em segundos que eu, sozinha, por anos não consegui me entregar, nem conseguiria encontrar. A escravidão estampada ou oculta só tem sentido com Deus.

                                                                                                                         26/07

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Hoje e para sempre.

É a nossa união que me deixa mais feliz agora. Hoje, nos dividimos como a quatro longo anos não fazíamos. Hoje, assumi esse belo compromisso contigo: o de me cuidar, o de te cuidar, o de nos amar. Porque hoje, viramos essencialmente um. E eu não quero te machucar, Senhor. Não quero mais cometer os mesmos erros autodestrutivos perto de Ti. Não quero não me gostar mais, pois eu sei como isso fere a Ti. E me dói muito te machucar agora em que entendo Teu único sofrimento por nós, Teus filhos. 
Antes de arrumar a casa, percebi que devo arrumar a mim mesma e antes de arrumar o meu corpo, é minha alma que precisa estar limpa, porque a mudança começa de dentro pra fora. É percorrendo esse caminho que tudo dentro de você se externiza, transborda, pois não cabe mais tanto amor dentro de si. É nesse momento de comunhão que seu eu mais profundo vira reflexo para todas as coisas: reflete em seus gestos, dentro do seu guarda-roupa, e por fim na sua própria casa. Agora, é fácil notar que todas as flores são presentes de Deus, até mesmo aquelas que brotam dentro de você. 
Confesso que foi um caminho muito árduo te deixar entrar mas agora que aceitei te ver aqui dentro de mim, a partir do momento em que tudo em mim sussurra que eu não posso mais negar, me rendi, me lancei em Teu mar, permitindo a correnteza de Tuas mãos me guiar, tudo fica infinitamente do jeito que era pra ser, tudo fica bom, até o peso. 
O Senhor vai fazendo obras de arte em minha vida, vai pintando o meu corpo, pincelando meu rosto, preenchendo minha velha alma de forma tão singela que não me dou conta do quanto mudei de uns meses pra cá. 
Enfim, quando concedemos por inteiro o nosso livre-arbítrio a Ele, a liberdade chega fácil, quando devolvemos nossa vida a Ele, a felicidade é de graça. Tudo fica tão perfeitamente bom e leve, até o mais pesar dos pesos. Mas hoje eu vim para falar mais desse laço, desse abraço cheio de cuidado que representa a comunhão. Nos dividimos, eu em Ti, Tu em mim, e eu não me lembro de ter sido tão feliz. Para sempre, nos unimos hoje. Depois de tantos anos vivendo com a cegueira que eu mesma escolhi. Hoje, como me disse uma vez Santo Agostinho, eu quero que o meu coração repouse sobre o teu, Pai. Hoje, eu desejo que nossos sangues se misturem, que nossos corpos se habitem e que em mim reviva a tua luz. Hoje e para sempre. Eu só tenho a Ti agradecer por ter me dado todas essas coisas e mais aquelas que não citei, através do lindo mistério da eucaristia, todos os dias. Obrigada. 
E como bem falastes, a Tua paz, não recebo como o mundo me dá, ela é só Tua, é como o imenso carinho e amor que tens por mim e por todos os teus filhos, que me trazes essa paz única que vibra dentro do meu corpo e se expande pela minha alma, reverberando em meu mundo todo.  
Até esse momento da minha vida, eu recusara a ideia de casamento, sempre negando fielmente essa possibilidade, mas neste dia, caminhando com a força que Tu desses aos meus pés para se levantar e com a coragem que pusesses em meu espírito para me entregar, eu senti meu coração todo revestido de branco, Senhor. Pronto para Te receber com esse imenso amor que não cabe mais dentro de mim, que desde o momento em que verdadeiramente Te conheci, perdeu todas as margens, e sem limites, agora derrama para todos os lados.  


19/06/2016

domingo, 15 de maio de 2016

Certa pausa da missa


 ~ 24, març.
Por cima de toda a dor a beleza sagrada paira, por cima de todo desdém entregue ao mundo de meus olhos, eu enxergo pontinhos que reluzem luz. A vida é um êxtase sem fim.
Não sei, dessa vez, os motivos pelos quais escrevo. Não sei se é porque transbordo ou se é para ter a garantia nesse papel de que um dia, fui feliz assim.Quero ser grata pelo que tenho agora, pelo que tenho em minhas pequenas mãos, pelo que posso manter em mim, por essas dádivas que fez-se brotar em meu pequenino e iniciante ano novo. Não quero reclamar pelo que não recebo, pelo “mais” que ainda não tenho, pelo que não me trazem.
Os dias tem sido belos, e acho que essa é minha frase preferida dessa semana. Pois resume o que há de mais forte em mim.
Hoje eu vejo a beleza nas mínimas coisas, nos pequenos momentos, naqueles até breve sorrisos, em certa sílaba cantarolada e saltitante pela missa, no ouvir uma história cheia de sentimentos e tentativas e belezas e sofrimentos humanos, eu vejo beleza no posicionar-se dos corpos familiares, nos breves momentos de silêncio. No hoje, eu tento ao máximo me dividir com o mundo, nós nos habitamos, e assim, há vida, há vida, há vida...
Há vida nos uniformes esvoaçados dos meninos que jogam futebol de lama, há vida na calçada repleta e vazia, há vida nas músicas que não tocam meu coração, apenas há, há vida nos murmúrios das árvores, nas luzes amarelas que perpassam meu caderno no meio da noite, há vida na sombra totalmente disforme de minha mão sobre essas linhas que escrevo, tão esquisitas agora a mim, simplesmente há. Há vida.
E hoje, aprecio o gostar de todas as cores, porque somente assim saberei estar viva. E não paro, porque tudo é bonito: os contrastes do mundo são bonitos, as veiazinhas roxas que habitam de forma aleatória minhas coxas são bonitas.
Ah! Eu gosto do mundo hoje... Mas ainda não consigo sentir Deus em quase nenhum canto dessa missa, me lembra apenas, o Seu sentir nas notas secundárias e tão discretas de uma música tocada aqui. Deve ser porque não entendo os ritos de cada momento, o que se acontece, o que há por detrás.
Neste momento, me permito sentir tudo de bom e quase ruim que essa religião me trás.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

"Aspas"


Deixa cair as palavras do teu coração
sobre a minha voz.
Atende ao chamado que finges não ouvir
Entende a luz que projeto sobre ti
Oferece todo o mínimo que possui
meu corpo será alimento de tua alma
teu sangue será puro
ajudando a colorir o mundo
Meu cheiro vibrará em ti,
exalará nos arredores de ti
assim como cada dor será sustentada com um aperto de mão eterno
Dorme aqui, em meu peito
descansa tua alma sobre a minha
jorra toda a dor como cachoeiras a iluminar pedras de areia
permito o fechar dos teus olhos agora
entregues inteiramente a mim
desabrocha em minhas águas claras

me deixa guiar, ser correnteza.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Ao deus que não me tem.


Se em minhas palavras eu não consigo depositar a confiança que tenho em ti
Pelo menos em meus olhos está guardado o anseio do nosso amor
Se da minha boca não saem em retilíneo aquelas palavras que tanto queria te entregar
de meus gestos reclusos e as vezes frenéticos
é exposta a minha verdade.
Se de minhas tantas mas escassas vozes
nada te saí
expando-me a mim mesma em teu louvor
Mas senhor, em minha concha eu me resguardo tantas vezes
sem nem saber do mínimo necessário para fugir
Mas até nessas horas eu estou amando
estou amando e sentindo todo o amor 
que escorre pelos meus olhos

que nasce dentro de mim sem a permissão concedida
que percorre as minhas feridas veias sem cor
Está sempre reverberando em mim, como uma tal onda do mar, a tua ausência.
enquanto estou amando e sentindo com ternura todas as nossas dores
permaneço amando enquanto explode
em mil saltos dentro de mim
essas sensações tão fortemente desconhecidas ou quem sabe, não lembradas
Não me edifico porque me mordem os medos
escuros
E na escuridão meu eu já permanece acostumado
A instabilidade vem sendo minha morada
Aos caos, minha mente já suporta.
Aos meus pulsos não cortados por teimosia, eu resisto.
A dor é familiar.
No entanto, o edificar-se me assusta.
E a estabilidade do teu amor me amedronta
E nesse gesto, eu só consigo lembrar de modo tardio
a coragem
que um dia
já fora minha.
Perdoe-me, senhor
que não escrevo em maiúsculo por ainda não saber se existe
mas ainda é escrito por ser sentido

Perdoe-me por não estar aqui o suficiente e muito mais.